O anúncio feito por Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 01 de agosto causou apreensão no setor produtivo nacional. Ainda não estão claros quais produtos serão diretamente atingidos pela medida, mas a sinalização política e econômica é inequívoca: trata-se de uma ação protecionista e de retaliação com forte impacto potencial para a indústria brasileira, sobretudo nas áreas de agronegócio e siderurgia.
O valor da tarifa é considerado excepcionalmente alto e, até o momento, não veio acompanhado de justificativas técnicas consistentes, como alegações de dumping (que seria exportar abaixo do preço de produção), subsídios ou desequilíbrios comerciais. O caráter abrupto da medida agrava a insegurança jurídica e regulatória para os exportadores brasileiros que operam no mercado norte-americano. Em um momento de desaceleração econômica global, uma barreira desse porte pode afetar empregos, investimentos e o desempenho da balança comercial brasileira.
Esse cenário desafia diretamente a condução da política externa brasileira nos últimos anos. Em particular, chama atenção a visível atuação do Deputado Federal Eduardo Bolsonaro, que está licenciado do mandato e atualmente reside nos Estados Unidos, intermediando junto a Donald Trump medidas que pressionem o atual governo, como forma de retaliação política. Durante o mandato de seu pai, Jair Bolsonaro, Eduardo assumiu informalmente o papel de interlocutor junto ao governo Trump, baseado em uma relação pessoal estreita com membros da família do ex-presidente norte-americano. Por diversas vezes, essa proximidade foi apresentada como uma vantagem diplomática. Hoje, contudo, os resultados respingam no povo brasileiro e se mostram inapropriados. Por estar afastado do cargo, Eduardo não tem direito algum de falar institucionalmente em nome do Brasil, aliás, nem mesmo se estivesse no exercício do mandato, na posição de deputado, caberia a ele fazer isso, a não ser que fosse designado pelo Congresso ou Governo.
A situação evidencia a extrapolação dos limites da diplomacia informal, baseada em vínculos pessoais e afinidades ideológicas. Relações bilaterais estáveis e eficazes exigem canais institucionais sólidos, planejamento estratégico e capacidade técnica. O papel do Itamaraty, historicamente reconhecido por sua excelência diplomática, precisa ser resgatado, como eixo central da política externa. O atual governo, inclusive, parece estar jogando ao lixo anos de boa relação bilateral conquistados com diversos países, usa o Itamaraty somente para falar com quem convém, faz política que cai a seu gosto, facilitando o caminho quando se trata de países ditatoriais. Além dos EUA, Argentina é outro exemplo: país vizinho, mas o Presidente Lula prefere visitar a ex-presidente Cristina Kirchner, condenada por corrupção, do que sentar à mesa com o atual presidente Javier Milei, líder de direita. Com Donald Trump, o problema é o mesmo.
A medida do presidente norte-americano seria uma forma de pressão sobre o governo brasileiro para amenizar os processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem tem relações mais estreitas do que com Lula da Silva. O STF já se pronunciou que não irá aceitar intimidações e que ações no campo econômico não interferem no jurídico. Podemos aprofundar a análise e escancarar também a teimosia e arrogância do presidente Lula em conversar e negociar com Trump, justamente por questões ideológicas, como mencionado anteriormente, e por sua proximidade com Bolsonaro. Mais uma vez a polarização Bolsonaro x Lula traz graves prejuízos à nação. Trump tentou pressionar Lula, mas acabou atingindo também Bolsonaro, pois a maior parte da população entendeu os motivos da retaliação.
Além disso, podemos questionar a dependência excessiva em relação ao mercado norte-americano, que torna o país vulnerável a choques externos, como o atual. Diversificar os destinos das exportações brasileiras e fortalecer alianças comerciais regionais e multilaterais devem voltar ao centro da estratégia comercial. É fundamental recuperar a autonomia da política externa brasileira, afastando-se de arranjos personalistas e retomando uma postura pragmática, baseada em interesses permanentes do Estado, não de governos.
A tarifa de Trump é um alerta. Mostra que relações entre nações não se sustentam com base em simpatias políticas, mas em estrutura, coerência e preparo técnico. E expõe, com clareza, os custos de ter relegado a diplomacia institucional a segundo plano. Diante disso, é papel do Congresso, do Executivo e da sociedade cobrar uma política externa profissional, transparente e orientada ao interesse nacional, e não à construção de vínculos pessoais que, quando mais necessários, falham em entregar resultados.
O escândalo tarifário com os Estados Unidos expôs fissuras importantes no grupo político ligado a Jair Bolsonaro. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, conhecido por sua gestão técnica e visão estratégica, passou a liderar articulações diretas com o governo americano para reduzir ou até reverter as tarifas impostas por Donald Trump. A iniciativa surpreendeu, e mais ainda causou espanto a reação de Eduardo Bolsonaro, atualmente nos EUA, que atacou publicamente o governador.
A motivação de Eduardo parece pouco alinhada com o interesse nacional. Ele defende a manutenção das tarifas, usando-as como forma de pressão indireta para tentar anular processos no STF, inclusive os ligados aos atos de 8 de janeiro que envolvem sua família. O ataque a Tarcísio evidencia um racha no grupo — e não é o único. No Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro, do PL, afirmou estar negociando com outros partidos após ser ignorado por Bolsonaro. Em Goiás, o ex-presidente interveio diretamente na executiva estadual, derrubando decisões sobre pré-candidaturas. Já Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, declarou ao STF que ações do partido em possível atentado ao Estado Democrático partiram de um grupo isolado, e que assinou documentos sob pressão.
Em Santa Catarina, me parece que o Governador Jorginho Mello consegue manter a casa organizada, em relação ao resto do país. Seguimos acompanhando os próximos passos.
Abraços e até semana que vem!
Publicado na edição 998 de 17 de julho de 2025