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sábado, julho 19, 2025
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CONTRAPONTO – Edinei Führ

Acompanhamos, nos últimos dias, através da imprensa, a guerra no Oriente Médio entre Israel e Irã, que ganhou novos capítulos com a adentrada efetiva dos Estados Unidos no conflito. O exército norte-americano bombardeou instalações nucleares em uma base militar iraniana próxima à capital Teerã. Sem entrar em méritos de guerra para nenhum lado — se é que existe mérito em uma — precisamos aprofundar a reflexão sobre os impactos desse conflito para a nossa realidade. Muitas vezes imaginamos que uma guerra em países longínquos não nos fere, e continuamos tranquilamente com nossas vidas. De fato, talvez não cause transtornos imediatos de forma direta, mas as consequências indiretas podem ser preocupantes.

A escalada do conflito representa uma ameaça considerável ao agronegócio brasileiro, especialmente devido à nossa dependência de fertilizantes importados. O Irã é um fornecedor crucial de ureia para o Brasil, e os ataques recentes às suas instalações de gás natural e industriais colocam em risco a produção de nitrogenados. Os preços da ureia já estão subindo globalmente, o que significa custos mais altos para os produtores brasileiros, impactando a rentabilidade das safras e, consequentemente, os preços dos alimentos para o consumidor.

Essa dependência externa de fertilizantes — que representa cerca de 85% do nosso consumo — é histórica, mas a crise atual evidencia. O Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) anda a passos lentos, e deveria urgentemente voltar a ser pauta prioritária, buscando maior autossuficiência e diversificação de fornecedores. Além disso, o milho também está em risco, já que o Irã é um dos principais importadores do cereal brasileiro, representando mais de 15%. Dificuldades logísticas e financeiras podem gerar atrasos ou até cancelamentos de exportações, agravando a pressão sobre os preços internos do milho, que atualmente são nada animadores.

Para a indústria e a agroindústria, o impacto se estende aos insumos industriais e à volatilidade do câmbio. A oscilação no preço do dólar, por exemplo, também afeta o preço de insumos e defensivos. O aumento dos preços do petróleo encarece o diesel e o frete marítimo, elevando os custos de transporte e afetando toda a cadeia produtiva. A instabilidade geopolítica tende a desvalorizar o real frente ao dólar, tornando as importações de matérias-primas mais caras para a indústria nacional — o que pode desencadear uma nova onda inflacionária.

As exportações brasileiras em geral estão sob ameaça, com a possibilidade de bloqueios ou interrupções no Estreito de Ormuz. Como já comentei na coluna da semana passada, trata-se de uma rota marítima vital para o comércio global de petróleo e fertilizantes. A incerteza na região cria um ambiente desafiador para os exportadores, que podem enfrentar desde atrasos em pedidos até a necessidade de buscar novas rotas e mercados, com custos e riscos adicionais.

Em suma, a guerra no Oriente Médio ressalta a vulnerabilidade do Brasil às turbulências geopolíticas globais, apesar de sermos uma potência agrícola. Nossa dependência de insumos importados e a exposição a rotas comerciais críticas exigem atenção urgente. É crucial que o governo e o setor privado colaborem para investir em pesquisa e desenvolvimento de fertilizantes nacionais, diversificar fornecedores e construir uma logística mais resiliente, visando garantir a segurança alimentar e a competitividade da economia brasileira em um cenário global cada vez mais imprevisível.

Problemas internacionais… e muitos problemas internos. Quando coloco no título que “Santa Catarina merece catarinenses”, talvez possa ter ficado confuso, mas, se acompanharem meu raciocínio, ficará claro. Nas últimas semanas, rondou a notícia de que o ex-presidente Jair Bolsonaro indicaria seu filho, Carlos Bolsonaro — atualmente vereador no Rio de Janeiro e no sexto mandato consecutivo — como possível candidato ao Senado por Santa Catarina. A carreira política não é exclusividade da nossa região; país a fora, muitos vereadores fazem do cargo uma profissão. Mas, voltando ao ponto, a notícia abalou a política catarinense, criando uma revolta quase generalizada e colocando o governador Jorginho Mello numa saia justa.

A peculiaridade do eleitor catarinense permite esse tipo de cogitação por parte do bolsonarismo. Já acompanhamos, nas duas últimas eleições, excelentes quadros serem colocados simplesmente ao lixo em contrapartida de apertar o número bolsonarista na urna: em 2018, o 17; em 2022, o 22. Eleger um carioca como senador por Santa Catarina? Parece um absurdo, mas já aconteceu. Em 2022, foi eleito de forma avassaladora Jorge Seif, também indicado por Bolsonaro e que era seu ex-secretário de Pesca e Aquicultura. Seif é natural do Rio de Janeiro e tinha um pouco mais de vínculos com o estado do que Carlos teria. Porém, o que com certeza o elegeu foi o número 22, não seu histórico, pois jamais havia ocupado cargo eletivo.

A família Bolsonaro pretende eleger quatro senadores em 2026: Flávio buscará a reeleição no Rio de Janeiro; Michelle deve concorrer pelo Distrito Federal; Eduardo, que fugiu para os estados unidos, pode voltar e se candidatar por São Paulo; e o menos conhecido, Carlos, teria como única chance viável o reduto bolsonarista, infelizmente, Santa Catarina.

A notícia gerou tamanha revolta no meio empresarial que até a FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina) se manifestou com uma nota de repúdio. Segue parte da nota: “Temos um dos maiores parques industriais do Brasil, somos protagonistas nas exportações, na inovação e na geração de empregos e, graças a isso, referência nacional em qualidade de vida e segurança. Para seguir avançando e enfrentar uma série de desafios, entre os quais os de infraestrutura, precisamos de representantes com raízes no Estado. Nossos congressistas devem estar ligados ao setor produtivo e à população catarinense, para defender com legitimidade e conhecimento de causa os nossos interesses. A FIESC valoriza a autonomia política do estado, as lideranças locais e o respeito à trajetória de um estado que nunca se curvou a projetos alheios à sua realidade.”

Pelo visto, esse assunto ainda vai render muita discussão e polêmica. Na próxima coluna, abordaremos os impactos políticos disso para o governador Jorginho Mello. Abraços, e até semana que vem!

Publicado na edição 995 de 26 de junho de 2025

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